sexta-feira, 20 de novembro de 2009

The Last One?

Quando eu mesmo não consigo exprimir o que penso ou o que sinto - quando percebo o quão artificial podem soar minhas palavras mal colocadas, resolvo então me aproximar do poeta, e buscar aqueles versos que vão de encontro ao meu coração e parecem sondar meus mais íntimos anseios .

Nestes dias, em que não consigo escrever algo denso em frente a uma tela em branco - dias cinzas e nenhum pouco criativos, dias de poucos comentários em que o livro das Coisas que não podemos deixar para trás parece não conseguir apreender os ensinamentos cotidianos. Eis a dificultade de olhar para frente, talvez porque só saiba colher estilhaços do passado ou até mesmo porque tenha recebido águas niilistas o bastante para torná-lo cético.

A medida em que 2009 aproxima-se do fim, All that you can't leave behind se torna uma palavra de ordem, ainda que os textos fiquem presos na mente e no papel - sim, no obsoleto papel. Guardando meus temores e minhas incertezas, chego ao final do ano com dúvidas palpáveis e respostas cada vez mais abstratas. Se tenho amigos? Não sei. Se tenho certezas? Algumas. Se sou feliz? Acredito que sim, como todo mundo.

Erros, como permiti-los quando se cobra tanto e oferece tão pouco? Como controlar impulsos? Se alguém que (ainda) lê meus registros esquizofrênicos e bizarros puder me responder, por favor, o faça. Às vezes perco a juventude que parece escorrer para o ralo do banheiro. Às vezes é necessário subir no alto da montanha, ainda que seja de elevador, para ver o que me cerca em outra perspectiva - e tudo isso ao som das velhas músicas de antes. Se me considero triste? Não, apenas um pouco "reflexivo".

As luzes do Natal já estão lá, e daqui a pouco toda a correria não vai passar de uma agenda velha cheia de informações. Enquanto permaneço no campo de batalha, vejo tantos mortos, outros feridos. É como em Stalingrado - a mais fascinante batalha de todas, ao meu ver. Talvez dure mais tempo do que eu imagine, mas é certo que as forças do 'mal' não poderão vencer. E de fato é naquela cidade, em meio ao vento gélido que sopra da Sibéria... são naquelas ruas cheias de sangue inocente que tudo vai entrar nos eixos, ou ao menos começar a se resolver. O mundo é mal porque as pessoas são más e eu nunca me iludi em relação a isso. Mas há esperança para o ferido, não se pode perdê-la de vista!

O fato é que mesmo em meio ao barulho de explosões e ofensivas, preciso me silenciar para não perder a razão. Não sei se este exercício incluirá também este livro de memórias online que já parece esquecido no tempo. Talvez eu volte a escrever quando puder aquecer o combustível congelado e conseguir avançar alguns metros em direção aos meus objetivos mais secretos.

Talvez eu não confie nem nos aliados, não por temer suas ações, mas sim, suas indagações. Talvez eu precise mudar algumas das rotas e reiventar um plano de batalha. Mas tudo isso parece tão difícil que, por ora, me apego ao silêncio. Quem sabe eu não volte com boas notícias?



"Se não estivéssemos tão empenhados
Em manter nossa vida em movimento,

E pelo menos uma vez pudéssemos não fazer nada

Talvez um enorme silêncio

Pudesse interromper a tristeza
De nunca entender a nós mesmos
E de nos ameaçarmos com a morte"

("Ficando em Silêncio", Pablo Neruda)

Sigur Rós - Hoppípolla from Sigur Rós on Vimeo.


"Tem horas em que, de repente, o mundo vira pequenininho,
mas noutro de
repente ele já torna a ser demais de grande, outra vez.
A gente deve de
esperar o terceiro pensamento.
(...)
O correr da vida embrulha
tudo,
a vida é assim:esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."


(Guimarães Rosa)

domingo, 15 de novembro de 2009

Cidades Invisíveis


I

Uma cidade no deserto
Entre dois rios
Entre duas perspectivas
Do outro lado, como a enxergam?

Passado presente futuro
Nas pegadas do peregrino
Que cruza vales e montanhas
Burlando placas e sinais, se perdendo ou se encontrando

De olhos fechados pode-se percorrer as fronteiras
Perscrutar
Alterar o passado
É assim em cidades espelhadas
Que tem o poder de refletir o pouco que nos pertence
Em meio ao muito que não tivemos e não tereremos

["Ao chegar a uma nova cidade,o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos." CALVINO, Ítalo]

II

Os caminhos são muitos
Cidades geradoras de vida
Cidades mulheres
Interligadas, simbólicas, delgadas

Existências agregadas
Entre concreto e pavimento
Cidades que se multiplicam
Que respondem indagações dos que peregrinam
Cidades divididas entre o itinerante e o fixo

Construídas entre abismos
Com sons próprios, ruídos...
No passado era uma, mas no presente tornou-se outra
Nunca a mesma
Dividida entre os mortos e vivos

["Voz do que clama no deserto: Preparai um caminho reto no deserto. Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará." Isaías 40]


III

Em meio à jornada proposta
O peregrino encontra vida
Entre diferenças e semelhanças

Descobre-se em meio a um tabuleiro de xadrez
Com peças entupidas e utópicas
Calcificadas pela ilusão de movimento

As cidades mulheres
Governadas pelo que não se pode ver
Formando impérios desconhecidos do rei
Cidades sem nomes, meras metáforas do que é humano

Terras longínquas
Ilhas de proporções continentais
Verticais, horizontais
Cidades invisíveis, uma única, muitas talvez...

["- Eu falo, falo - diz Marco, - mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, a outra é a que correrá os campanários de descarregadorses e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno (...) Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido." CALVINO, Ítalo]


Texto escrito em Fevereiro de 2009 após a leitura do livro "Cidades Invisíveis", de Ítalo Calvino.

domingo, 1 de novembro de 2009

"Mr. Gorbatchev, tear down this Wall"

A frase do título deste post é do ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, durante um discurso na Alemanha em 1987. Durante essa semana o mundo todo vai comemorar a queda do muro de Berlim, que aconteceu junto com o meu nascimento - em 1989. Sim, trata-se de um dos eventos mais importantes do final do século XX.

É estranho pensar que pessoas ficaram separadas durante décadas por uma barreira erguida em poucas horas. Imagina só, você acorda, vai trabalhar e depara-se com uma fronteira intransponível! A barreira imposta pelo regime comunista foi, sem dúvidas, o grande símbolo de um tempo que acabou. O mundo com duas frentes de poder, URSS x EUA em uma corrida armamentista sem tréguas, etc, etc.

E para comemorar a queda do muro de Berlim, eu pesquisei no youtube alguns vídeos, a maioria de telejornais que acompanharam a queda do muro e também da URSS depois. Confesso que tenho inveja daqueles jornalistas que estiveram envolvidos na cobertura destes eventos tão significativos. Para aqueles que gostam de jornalismo internacional, eis um bom momento para pensar sobre o poder das imagens, dos textos bem construídos e da responsabilidade e privilégio de reportar um momento histórico.

E para finalizar este breve post, deixo uma frase da Margareth Tatcher dita em uma das reportagens a respeito de Berlim em 1989 que vou colocar aqui: "It makes you realize that you can't stifle or supress, people desire for liberty". Vale a pena conferir os vídeos!

1 - Cobertura da BBC com entrevista de Margareth Tatcher:



2 - Discurso de Reagan em 1987:



3 - Cobertura da CBC:



4 - Cobertura do Jornal Nacional:



5 - Pedro Bial narra o fim da URSS no famoso 'Plantão':