segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ready to Start

Por volta das nove da manha do dia 25 de dezembro e o aviao da Air Canada pousava no aeroporto de Toronto. Do alto eu via tudo branco, mas o frio ja era ''conhecido'' desde Chicago.

No aviao, o album da banda canadense Arcade Fire (banda responsavel por um dos melhores albuns do ano, de acordo com os jornais locais) estava disponivel, e ao som de 'Ready to Start' eu vi a cidade surgir...

Ready to Start - Pronto pra comecar. Nao poderia haver uma cancao melhor pra os momentos iniciais da minha longa trip pelo gelado Canada.

Mando noticias em breve. Antes disso tentarei dominar o teclado do notebook e quem sabe, aprender a acentuar as palavras!

Por enquanto tento absorver o que o restinho de 2010 ainda pode me oferecer, mas deixo um recado pra 2011: baby, I'm ready to the countdown, I'm really ready to start!












It's my life
It's now or never
I ain't gonna live forever
I just want to live while I'm alive...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Sherazade e minhas estórias

Releio frases e textos antigos. Despedidas a todo momento. Na parede da memória, um mapa mundi adolescente de rotas marítimas e sonhos tolos. Talvez seja realmente importante tantas despedidas, pois só assim percebemos as pessoas que estão ao nosso redor. Mas o mais interessante de se lançar em uma jornada deste tipo, aos 21, é ter a consciência de que se trata de algo completamente desconhecido!

A Sherazade terá, ao final de tudo isso, colhido mais "estórias" de sua vida e pode até ser que o desfecho de tudo isso nunca seja contado por ela... Talvez as tais "estórias de si mesmo" caibam dentro das mochilas que carrega estrada a fora, nos ipods ou discos rígidos. Suas projeções e expectativas, frustrações e sucessos, seus erros e temores. Suas músicas e livros favoritos.

Poderia matar Sherazade só pela ânsia de conhecer o desfecho disso tudo? Um crime que se justificaria apenas pela necessidade de se conhecer o porque da narrativa. Sem graça e totalmente atemporal... A beleza da vida é reconhecer que mesmo sem respostas, estamos na estrada. Podemos corrigir erros de rota ou então prosseguir quando tudo está de acordo com os planos.

Mas talvez ao se lançar nessas estradas malucas seja necessário deixar algumas coisas para trás e reconhecer que nem tudo está sob nosso controle. E tudo isso faz sentido, pois é a única maneira de continuar peregrinando, de prosseguir.

Não somos reis de nós mesmos, não somos escravos de nós mesmos em uma busca desenfreada pela perfeição. O erro é mais humano do que pensamos. Pra que se martirizar? Talvez todas as nossas crueldades sejam reveladas apenas quando outros narrarem nossas aventuras e é possível que nossos sonhos juvenis tomem rumos opostos em relação ao que projetamos hoje.

Pode ser que hoje não faça sentido, mas chegará o momento em que o peregrino sentirá o horizonte "pesar nas costas". Perceberemos então que tudo depende das perspectivas de quem conduz a estória.

Quando as colinas estiverem cobertas de gelo, o peregrino se apaixonará por Sherazade e pode ser que tal experiência transforme completamente seu destino, como em um conto do realismo fantástico latino-americano. Talvez não sejam necessárias mil e uma noites para que isso aconteça...

Talvez a misteriosa musa que conquistou Xeriar seja uma cidade, como as cidades invisíveis de Italo Calvino, talvez seja a iluminação no deserto, como aconteceu com os profetas, ou a estrada de Kerouac... Talvez sejam nossas respostas ou, mais diretamente, a própria sabedoria...

Por hora, Sherazade são meus escritos caóticos. Todos escondidos num lugar qualquer de calmaria em que eu possa ouvir e contar minhas próprias desventuras!

‎"The more you see the less you know
The less you find out as you go
I knew much more then than I do now"

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

First of December (alguns factos de 2010)

Peço desculpas aos (poucos) leitores deste espaço. Sim eu andei um tanto 'preguiçoso' em relação ao blog, e poucas foram as novidades e textos em 2010. Quando vejo posts antigos [de outros blogs que eu tive] é que percebo o quanto eu deixei de lado minhas divagações e impressões, seja sobre livros, filmes ou música - enfim, sobre tudo o que "povoa" a minha mente.

Dezembro chegou com o término do estágio (após sete meses ininterruptos de cobertura política), provas, trabalhos finais e um intercâmbio para organizar. Acho que assim eu defino - 'quase que inteiramente' - o meu final de semestre. No meio disso tudo ainda não consegui organizar minhas ideias e pensar melhor a respeito do ano, naqueles famosos "balanços". O tempo voa, e daqui a pouco estarei bem longe daqui!

Mas, para esquentar os motores e já me preparar para "o futuro que me espera" [meu próximo post será sobre a trip!], posto aqui três momentos 'interessantes' de 2010. Digamos que são os três primeiros, terei tempo - na semana que vem - para pensar em outros!

#1
O comícia Dilma/Lula em Valparaíso, no Entorno do DF. Acho que profissionalmente foi um dos momentos mais marcantes deste ano. Cobertura de política em ano eleitoral é um desafio e tanto, e hoje vejo o quanto isso vai ser importante para a minha vida profissional.

O comício em questão foi interessante por ter sido a primeira vez em que estive no Entorno do DF, e além de ficar estarrecido com a realidade do local (pobreza, problemas estruturais seríssimos, etc, etc), pude perceber o quanto a figura de Lula, digamos, 'mexe' com a população.

Isso gerou em mim certo medo e fascínio, e me deu provas de que ter lido O Príncipe foi crucial para que eu pudesse enxergar aquele cenário repleto de bandeiras vermelhas de modo diferente. "A política é um grande teatro, e há sempre um novo espetáculo", já dizia uma jornalista que conheci em uma das (muitas) coberturas.


#2
São Paulo no início de Agosto. A melhor viagem do ano! O friozinho da terra da garoa, um dia todo caminhando pelas avenidas, parques... visitando museus. As noites alternativas e seus shows, a Vila Madalena, o Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji, enfim, tudo foi muito bacana.

A tarde na Paulista, visitando lugares que fogem do tour convencional, permanecer calado para ouvir o burburinho da cidade, ver postais antigos na feira de antiguidades... Um vento gelado às 3 da tarde. Inesquecível!


#3
"Você potencializou isso". É estranho "potencializar" alguma situação em específico, ou então dizerem que você potencializou algo. Talvez você, caro leitor, já tenha "potencializado" uma amizade, um namoro, um trabalho, um livro... Talvez você até tenha deixado claro seus medos em relação a isso e não tenha escondido a tal "potencialização".

Eu me lembrei ao ouvir essa frase (que poderia estar em um dos filmes do Woody Allen) de um conselho dado por um amigo no final da adolescência: "Você deveria parar de ler ficção e jogar RPG. Daqui uns dias você vai acabar achando que fantasia é realidade, e ai meu filho...!". Dito e feito! Se vira nos 30, mané!



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

trecho

"Há um contraste entre os vastos projetos que iniciamos, a contrução de hoteis e a dragagem de enseadas, e o nós psicológicos básicos que os solapam. (...) A intratabilidade dos nós mentais sugere a sabedoria austera e desiludida de certos filósofos antigos que se afastavam da prosperidade e da sofisticação e argumentavam, de dentro de uma choça de barro, que os ingredientes essenciais à felicidade não poderiam ser materiais nem estéticos, mas deveriam sempre ser insistentemente de natureza psicológica."

A Arte de Viajar - Alain de Botton p.35

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O silêncio de "hoje" na voz de Ney Matogrosso

Sorte do Dia: "O silêncio oportuno é mais eloqüente do que o discurso."

Logo hoje, que eu tinha tanta coisa pra dizer...



"Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro"

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tensão diplomática


“There is not a huge gap between what we say behind closed doors and what we say openly,” said Mr. Netanyahu. (NYTimes)


Novamente o Wikileaks disponibilizou documentos importantes que mostram aspectos - sombrios e polêmicos - da política internacional norte-americana. Os documentos causaram revolta ao redor do globo, mas é claro Sr. Netanyahu, que nós "acreditamos" que as conversações e planos de Israel/EUA em relação às outras partes do planeta são sempre muito "transparentes".

sábado, 20 de novembro de 2010

Conselho de Paul McCartney

Antes dos shows em São Paulo, Sir Paul passou por aqui e me deu o seguinte conselho:

And anytime you feel the pain,
Hey, Jude, refrain,
Don't carry the world
Upon your shoulders.
(...)
Hey, Jude, you'll do,
The movement you need
Is on your shoulder.
Na na na na na na na na na.

Thanks Paul! You're really awesome!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Já teve vontade de abraçar o mundo?

Diálogo:

- Péricles, qual música que te define?
- (pausa) Walk On do U2. Tem tudo haver comigo... desde a adolescência. Quando coloco o CD pra tocar dá vontade de abraçar o mundo. (risos) É isso, vontade de abraçar o mundo.
- Como assim abraçar o mundo?
- (pausa) Não sei... É um sentimento, apenas isso! Não sei explicar.

(Mineiros, 14 de Novembro de 2010.)




(...)
Ande em frente,
O que você conquistou eles não podem te negar
Não podem vender ou comprar
Ande em frente,
Fique seguro esta noite

E eu sei que dói
E seu coração se partiu
E você só pode aceitar tudo
Continue, prossiga

Lar... difícil saber o que é se você nunca teve um
Lar... eu não posso dizer onde é,
mas eu sei que eu estou indo para casa
É onde a ferida está

E eu sei que dói
E seu coração se partiu
E você só pode aceitar tudo
ande em frente,

E deixe tudo aquilo para trás
Você tem que deixar isso para trás

Tudo aquilo que você forma
Tudo aquilo que você faz
Tudo aquilo que você constroi
Tudo aquilo que você destroi
Tudo aquilo que você mede
Tudo aquilo que você sente
Tudo isso você pode deixar para trás


Tudo aquilo você raciocina
Tudo aquilo você planeja
Tudo que você veste
Tudo aquilo que você já viu
Tudo que você cria...
Tudo aquilo que você arruina
Tudo aquilo que você odeia...


O vídeo em questão faz parte do DVD U2 - Slane Castle, gravado na
Irlanda. Ao meu ver é o melhor registro de Walk On, no sentido específico de
"voltar para casa".


A canção foi dedicada a Aung San Suu Kyi, ativista birmanesa e nobel da paz que passou mais de uma década em prisão domiciliar. Recentemente ela foi libertada pelo líder máximo birmanes, general Than Shwe.

sábado, 13 de novembro de 2010

Entre a liberdade dos poetas e a sabedoria dos covardes


Uma vez me disseram que ler a antologia poética de Vinicius de Moraes poderia ser muito perigoso para aqueles que por um motivo qualquer não acreditavam no amor. Primeiro por que o fato de não acreditar no amor pode revelar um bloqueio, um trauma ou coisa assim - e do outro lado da balança você tem Vinicius e seus escritos, que revelam um eterno apaixonado que viveu esse lado da vida de modo "intenso", como poeta e bon vivant que era.

Na época, eu li todos aqueles poemas e cartas - e nem era uma antologia tão grande assim. Mas naquele momento eu havia decidido que este lado "afetivo" é importante, e é necessário nutrir algum tipo de esperança ainda que... ainda que... as experiências não tenham sido tão boas assim.



Encontrar o par perfeito, dividir problemas, rir, sair, namorar, casar, enfim, eu acredito que para viver tudo isso é preciso ter uma alma de poeta, pronta para pular do precipício se preciso for (aliás, muitos definem casamento como pular de um precipício, enforcar-se...). Esse love way of life tem lá suas desvantagens, mas quer saber? Que se dane! Talvez chegará o dia em que você olhe pra trás e perceba que deu o melhor de si, ainda que os resultados não tenham sido tão "favoráveis" assim. Mas eu tento acreditar que os esforços darão bons resultados no futuro.

Conversando com um amigo sobre o tema, acabamos relembrando Vicky Cristina Barcelona - filme que (ao meu ver, sem pretensões críticas chatas) chega a 'descomplicar o amor', mostrando que este sentimento é, na maioria das vezes, irracional - isso com muita sedução, humor e é claro uma dose de ironia. "Por que tanto perde-se/Tanto buscar-se/Sem encontra-se?" são versos cantados na música tema do filme, e já dizem muito a respeito de buscar algo [o amor], nem sempre encontrá-lo, e continuar procurando. Paradoxo humano?!

Depois de Vinicius, Woody Allen e muitas divagações, eu pergunto: vale a pena mergulhar intensamente em algo arriscado? Ou seria melhor ser um covarde sábio, como sugere o texto abaixo?

"Amor, paixão, ódio, nada consegue provar se há diferença entre eles. De igual, para começar o efeito de mudança sobre si mesmo e, meu rapaz, mudar não é coisa para qualquer um. Por isso tem tanta gente que não ama, nem é amado. São os que não aguentam levantar a tampa que os protege do incerto, e mudar. Pois a paixão é incerta, não aceitando o estabelecido. O amor, pior, engana, garantindo que poderá ser estável e infinito. E o ódio, rapaz, esse é sempre eterno. Portanto, quem é que não ama, não se apaixona, não odeia? Os covardes? Com certeza. Os covardes, entretanto sábios. Naquele conceito de sabedoria que mata você de velho. E morrer de velho, convenhamos, é a coisa mais humilhante do mundo." (Fernanda Young)

sábado, 23 de outubro de 2010

Norwegian Recycling, Katie Melua e minhas - mais recentes - divagações

Já postei aqui uma versão de Blowin' in the Wind do Dylan na voz da maravilhosa Katie Melua. Quem quiser ler o que povoava minha imaginação naqueles dias e curtir a versão, é só clicar aqui. Mas dessa vez, posto uma mashUP (mistura de músicas) em que a canção principal é uma interpretação dela (Melua) para Just Like Heaven, do The Cure. A voz dessa cantora dispensa qualquer adjetivo...

Aliás, aproveito para indicar o Norwegian Recycling - responsável por misturar músicas e obter faixas criativas, bem acabadas. Destaque para Miracles, basta procurar no YouTube! A mashUP abaixo chama-se "Just Like a Ghost" e é responsável pelas minhas mais recentes "divagações".



"Billie The Vision And The Dancers" is one of my absolute favorite bands and "Just Like Heaven" is one of my favorite "The Cure" songs. In this mash-up I used Katie Meluas cover because it fitted much more to mash than the original. Enjoy! Norwegian Recycling

Enquanto o dia 31 não chega...


Patrick Chappatte, «Le Temps»
Charge extraída do excelente blog Notas ao Café...

domingo, 17 de outubro de 2010

O viajante

"Tudo isso para que Péricles pudesse explicar ou imaginar explicar ou ser imaginado explicando ou finalmente conseguir explicar a si mesmo que aquilo que ele procurava estava diante de si, e, mesmo que se tratasse do passado, era um passado que mudava à medida que ele prosseguia a sua viagem, porque o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, não o passado recente ao qual cada dia que passa acrescenta um dia, mas um passado mais remoto. Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.

Péricles entra numa cidade; vê alguém numa praça que vive uma vida ou um instante que poderiam ser seus; ele podia estar no lugar daquele homem se tivesse parado no tempo tanto tempo atrás, ou então se tanto tempo atrás numa encruzilhada tivesse tomado uma estrada em vez de outra e depois de uma longa viagem se encontrasse no lugar daquele homem e naquela praça. Agora, desse passado real ou hipotético, ele está excluído; não pode parar; deve prosseguir até uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse um possível futuro e que agora é o presente de outra pessoa. Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos."


Ítalo Calvino - Cidades Invisíveis

(...)



You and me
Maybe
Probably not

I'm so...

Insecure to accept
Young to understand
Ridiculous for love

Is Time really the heart of the matter?

You're so...

Strong, to say no when necessary
Adult, to put work before love
Unattainable sometimes

We're so different, aren't we?

I am leaving
Going away, will it be as icy as I think?
Should I imagine a future with you?
I am trouble, and now I've got a lot of questions
But I cannot find answers

But I know something...
Now I like you more than I thought
And I don't wanna stop
Please, not now
Don't leave me here alone.



(March, 2010)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

When I look at the world

A proposta da professora era que cada aluno desenhasse em uma folha de papel alguma coisa que estivesse relacionado com sonhos e desejos. Era mais uma daquelas dinâmicas de grupo do Ensino Fundamental, em que você acaba "se expondo" e passando vergonha no final. Havia um pedaço de barbante, que dividia a sala formando um varal onde seriam penduradas as folhas de A4. E cada um seria convidado a explicar sua "obra de arte" diante da classe.

Seu desenho era ambicioso, e ao mesmo tempo, interessante. Era o contorno de um mapa mundi, em uma projeção "autoral", e a explicação suscinta o bastante para aqueles tempos, outros tempos... "O mundo professora, quero conhecer o mundo". Haviam alguns percalços no caminho, até mesmo porque seu mundo era muito pequeno e limitado. O mundo Google ainda não havia se tornado tão comum, e a Barsa e seus verbetes cumpriam muito bem tal função de ser "janela para o que não se podia ver".

(...)

A professora acabou levando o desenho, e aquele jovem nunca mais pôde vê-lo. Ele cresceu, conheceu outro mundo, se mudou. Sonhava com o Planalto e queria ser internacionalista, depois acabou gostando da ideia, e resolveu mudar, ser jornalista. Hoje, quer ser um misto de tudo isso. Viu seus planos mudarem - mas riu quando tudo pareceu reordenado. Talvez o melhor dos sonhos seja realizado quando você consegue olhar para trás e ver que em um desenho já haviam traços do que você deseja nos dias de hoje. Eis a tal da conexão entre passado e presente, buscando um futuro.


When the night is someone elses
And you're trying to get some sleep
When your thoughts are too expensive
To ever want to keep
When there's all kinds of chaos
And everyone is walking lame
You don't even blink now, do you
Or even look away

So I try to be like you
Try to feel it like you do
But without you it's no use
I can't see what you see
When I look at the world

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mundo grande

Quando não sei o que dizer, eis que me aparece Drummond e diz tudo. Fala sobre a vastidão do mundo e sobre coisas que pra mim são tão atuais... Poema que li na adolescência, e que fazia tanto sentido naquela época - hoje o releio de um modo completamente diferente. Talvez meu mundo tenha girado...

O homem e o mundo, os conflitos, os sonhos, os projetos... as andanças: eis a vida! Eis o que não sei dizer, por mim mesmo, neste final de Agosto:


Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.

domingo, 25 de julho de 2010

Sobre encontros e desencontros


Milhares cruzam as ruas neste momento. São ruas que não precisam de nome, dignas dos mesmos temores... pavimentos construídos para dar passagem,abrir caminhos, para guiar, transportar. São aberturas iluminadas que guardam segredos, testemunham mistérios e se tornam palcos de estórias diversas...

No entorno do centro da cidade alguns carros buzinam e o barulho as vezes é insuportável. Ambulantes gritam, carros de som passam, as pessoas acabam esbarrando umas nas outras - tudo parece acontecer em uma sintonia frenética, desordenada. Os gestos e olhares revelam a presa de chegar a algum lugar qualquer, são horários que devem ser cumpridos, e que acabam aprisionando as pessoas em convenções e regras. Não existe mais tempo para si próprio, não existe tempo para o outro. Seríamos verdadeiramente livres?

A presa, a rapidez, as horas escassas, o sentimento de que o tempo passou e você nem percebeu. Os compromissos, a agenda do dia, os minutos, os segundos...

Mas em meio a tudo isso você permanece só, observando. É apenas mais um estranho e a menos que alguma fatalidade ocorra, ninguém perderá tempo com você. Mas não existe um sangramento visível aos olhos apressados dos que passam, não aconteceu nenhum acidente com você. É por dentro que sua dor persiste e a solidão parece não ter fim. São problemas que aprisionam e calam os gritos, são marcas de uma individualidade - verdades do nosso tempo.

Sim, você pode estar perdido, só em meio a uma multidão de pessoas que apenas esbarram em você. Mas talvez sua história se cruze com a de outra pessoa em alguma esquina pela frente.

Entre um cruzamento e outro, enquanto as horas passam, você pode estar parado enquanto todos continuam andando. Mas se você não parar e apenas seguir adiante por entre os sinais e placas, talvez você encontre alguém... ou apenas encontre a si próprio.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Amores platônicos ao som de Oasis

Ela 'sempre' andava com fones de ouvido, e parecia 'sempre' atarefada o bastante para apressar o passo e sair correndo pra casa assim que batia o sino da escola. Eu devia ter uns 12, e ela uns 17. Enquanto eu saia do curso de inglês, ela chegava pra ter aulas em um nível muito acima do meu. Eram tempos de Britney Spears e Backstreet Boys, mas ela não parecia curtir as músicas que toda garota curtia. Ela lia livros densos, do tipo clássicos da literatura.

Um dia ela chegou mais cedo no Inglês. Período de jogos no colégio e muitas atividades extras. Sentei-me no sofá e começamos a conversar. Perguntei, acanhado, o que ela gostava de escutar[Não contei, mas ela tinha um disckman na bolsa]. Ela era fã de Oasis, e não poderia ser diferente.

(...)

Foi então que eu escutei a música que seria sempre responsável por trazer a tona os amores platônicos da minha pré-adolescência.

Não demorou muito e ela se mudou da pacata cidade. Não a vejo há muito tempo, mas pelo menos ainda posso escutar "Don't look back in anger".




terça-feira, 29 de junho de 2010

A saga do cemitério


Estamos em Sucupira, uma pequena cidade da Bahia, considerada ‘a pérola do Norte’. Famosa pela produção de azeite de dendê, por seus coronéis e os conseqüentes enfrentamentos entre eles. De um lado a rica família Medrado e do outro a imponente família Cajazeira. Nessas terras ainda existe espaço para o cruel matador Zeca Diabo.

Mas é na política que a cidade deixou marcas profundas “nos anais e menstruais” do Brasil. Em um momento histórico, por 79 votos de diferença, o novo e mais notável prefeito seria o emblemático coronel Odorico Paraguaçu – que só não ficou mais feliz com a vitória alcançada porque perdeu o primeiro voto para um jegue!

Odorico, possuidor do dom 'divino' da oratória adorava discursar, e utilizando-se de um “palavreado próprio” muito complexo, diga-se de passagem, com inúmeros neologismos e exageros tornou-se uma das figuras mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira. Seu audacioso “projeto desenvolvimentista que tornaria Sucupira uma cidade de primeiro mundo”, como ele próprio dizia, estava fundamentado na construção de uma obra de infra-estrutura nunca vista na pacata cidadezinha. Era o fim do “humilhamento” dos defuntos de Sucupira que precisavam viajar léguas para receber serviços fúnebres – a nova administração construiria o primeiro cemitério municipal.

O cemitério e nenhum defunto

Para efetivar a grande promessa de sua campanha, Odorico Paraguaçu precisou enfrentar todo o furor da oposição que desejava construir, no mesmo local do cemitério um estádio de futebol, o “Sucupirão”. Mas Odorico, carregado de emoção, discursa ao povo e convence seus eleitores da necessidade de tal obra. E foi cortando gastos com a limpeza pública e tomando uma série de medidas ilógicas que o cemitério foi construido.

Mas Odorico, o bem-amado do povo resolve então saber o que pensam seus oposicionistas e se mostra muito mais inteligente do que os políticos americanos envolvidos no caso Watergate. Para espionar o povo ele instala secretamente um microfone no confessionário da Igreja, descobrindo todos os segredos dos moradores da cidade. E para barrar o que ele chamava de “planos oposicionistas e anti-desenvolvimentistas”, censura o jornal “A trombeta”.

Porém o plano foi descoberto e a confusão tomou conta da cidade. Muitos queriam impeachment, para o desespero dos aliados... Não demoraria muito e o prefeito já teria outro plano para atrair de volta a atenção e o coração do povo. Mas ele via seu sonho maior de inaugurar o cemitério municipal sem nenhuma solução imediata.


Tentando alavancar seu governo e alçar vôos para o desenvolvimento e o progresso, Odorico Paraguaçu chega a viajar com sua comitiva para Nova Iorque, onde propõe a mudança da sede da ONU para a morna e calma Sucupira.

Considerado como um dos maiores gênios da televisão brasileira, Dias Gomes foi o escritor da novela “O BEM-AMADO”, que foi ao ar no ano de 1973, em pleno período de ditadura militar. A cidade fictícia de Sucupira pode ser confundida com muitas outras, e da mesma maneira, a figura de Odorico Paraguaçu com heranças de um coronelismo arraigado, um tipo político demagogo e populista tão difundido em toda a América Latina.

Sucupira nos cinemas

A novela foi censurada pela ditadura, e teve muitos cortes decorrentes. De 1980 a 1984 “O BEM-AMADO” voltou a ser gravado no formato de seriado, e teve maior liberdade para ironizar e criticar os mandos e os desmandos militares – tudo isso carregado de um humor muito peculiar na obra de Dias Gomes, que também escreveu a novela “Roque Santeiro” (inicialmente censurada por completo, e que só pode ser filmada novamente anos mais tarde).


A boa notícia é que a cômica trajetória de Odorico Paraguaçu e seu cemitério será lançada nos cinemas ainda este ano. E os curiosos como eu podem ler a edição pocket de “O Bem-Amado” (uma adaptação literária lançada pela Editora Globo, que faz parte da série “Grandes Novelas”) - esse livro de leitura rápida narra a trama de uma maneira bem leve e prazerosa para quem deseja dar boas risadas das peripécias que só acontecem em Sucupira.
#Confira o trailer do filme:



Heranças colonialistas, paternalismo, populismo, mandos e desmandos - qualquer semelhança com políticos contemporâneos não é mera coincidência. Mesmo sabendo que a história foi escrita na década de 70, eu ainda consigo enxergar nitidamente sombras “desenvolvimentistas” de Odorico em várias Sucupiras espalhadas pelo país, ainda mais em ano eleitoral!

Frases de Odorico:


"Esta obra entrará para os anais e menstruais de Sucupira e do país!"

"É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humilde cidade."

"Vamos dar uma salva de palmas a esta figura trepidante e dinamitosa que foi o Seu Nonô"

"Isto deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta (ao
se referir às maracutaias descobertas pelos vereadores de oposição à respeito de
sua administração)."

"Vamos deixar os entretantos e partirmos mais para os.... finalmentes!"

"Como dizia o poeta Castro Alves: 'Bendito aquele que derrama água, água encanada, e manda o povo tomar banho' (Isso dito durante a inauguração de uma bica em um vilarejo de Sucupira)"

domingo, 20 de junho de 2010

Qual o poder de uma música?


Você também lê comentários nostálgicos e interessantes sobre as sensações que determinada música [antiga] provoca nas pessoas, quando foi que escutaram e coisas do tipo, ainda que as pessoas sejam completamente desconhecidas?

E faz isso pelo simples prazer de perceber que uma das soundtracks da sua vida também faz parte da vida de muita gente ao redor do mundo?

Qual o poder da música na vida das pessoas [e na sua vida]?

Aqui vai a belíssima balada folk do Simon & Garfunkel chamada Boxer, gravada no final da década de 60, e em seqüência trechos de comentários feitos por pessoas comuns no youtube contando suas experiências com a música!



"Yesterday while I was downtown looking through this store that sold classic novels and old records. This song came over the speaker. And everyone in the store whites, blacks, asians, spainish, young, and old everyone listened, and some even hummed along. No one leaft the store until the song finished. I nearly cried."

"22 years ago driving into wales with the family on a holiday this song came over the radio my dad turned around to me as a 8 year old lad and said son sit down and listen to one of the greatest songs written.At that age i wasnt to sure what music meant never mind who simon and garfunkel were.All i can say about this outstanding bit of music is thanks for all the great times it reminds me of.and 22 years later ive learnt it on the guitar and can listen to it anytime anyplace i feel like."

"This song is just perfect. It transports me to my happy place."

"Simply fantasic song which means so much and the experiences you can draw from your of your own life. Parts so true especially the last words "The fighter still remains" for those of us who have fought in the ring, the ring never leaves you."

"It's so fluid, I mean Paul and Art's voices seem to melt together into one, and also the fluidity of Paul's guitar, doesn't sound forced, or strained, so nice. I love when the violin strings hit that high pitch about the 3rd lie-la-lie, sends a chill through me, and what exactly is that low instrument playing continued through the rest of the lie-la-lies, it's pure genius. One beautiful song."

"Thank God for the '60's. Now, Nothing but the sounds of silence. This is the time of the Assassins. the Poets are being killed. All music is a wasteland of hip hop."

"Here are the words of the missing verse which Simon wrote but were not used on the original recording:
Now the years are rolling by me
They are rockin' easily
I am older than I once was
And younger than I'll be and that's not unusual.
No it isn't strange
After changes upon changes
We are more or less the same
After changes we are more or less the same.""

"A moutain of a song. One would have to reach for the sky to surpass this amazing work of art."

terça-feira, 8 de junho de 2010

The answer is blowin' in the wind



As vezes você percebe que precisa parar - dar um tempo e mudar o rumo das coisas. Não dá pra carregar o mundo nas costas, pra responder todas as perguntas que deseja e se culpar por cada detalhe que foge do planejado.

Meus mapas, dardos, livros, tratados imaginários, textos, rascunhos, meus sonhos... "Quando uma guerra começa, a primeira vítima é a verdade", já dizia Hiram Johnson. Quando estamos no front, fica difícil enxergar o todo e a visibilidade é a única coisa que lhe resta.

E quando tudo aquilo acaba, quando as bandeiras brancas manchadas de sangue são levantadas, a verdade continua sendo mera ilusão para aqueles que se lembram de fatos vagos e precisam processar o simples fato de que na vida não existe justiça. O que resta são ganhadores que legitimam suas vitórias a partir de suas ilusões e perdedores que elaboram teses para suas justificativas de fracasso.

Hoje, deixo a ansiedade de lado simplesmente por ter a convicção de que não há muito o que fazer - não se pode controlar o vento. Quando a sorte está lançada pouco resta para se raciocinar e a chance [de algo dar certo ou não] se propaga em ondas, caminhando pra onde o vento soprar. E o que mais me dói é que tudo isso é tão relativo, tão imprevisível na maioria das vezes!

Há coisas que fogem do controle, são como as chances - muitas vezes tão evidentes - mas que são levadas por outros ventos, e já não nos pertencem mais. Nos resta aceitar que o vento que passou não voltará como uma brisa e perseguir outras aspirações pelas quais vale a pena continuar vivendo, bem ao estilo de Woody Allen. É melhor agir assim, antes que os ventos do passado se transformem em tornados.

How many roads must a man walk down,
Before you call him a man?
How many seas must a white dove sail,
Before she sleeps in the sand?
Yes, and how many times must cannonballs fly,
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind

Yes, and how many years can a mountain exist,
Before it's washed to the seas (sea)
Yes, and how many years can some people exist,
Before they're allowed to be free?
Yes, and how many times can a man turn his head,
And pretend that he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind.

Yes, and how many times must a man look up,
Before he can see the sky?
Yes, and how many ears must one man have,
Before he can hear people cry?
Yes, and how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind

sexta-feira, 4 de junho de 2010

The last one

Em 2001, o vocalista dos Ramones, Joey Ramone, escolheu a música In a Little While do U2 para ouvir em seu leito de morte - era a última canção do frontman de uma das bandas mais influentes do punk rock mundial. Para Bono, após saber disso, a música sobre uma "ressaca" se transformou em uma canção gospel.


Qual música você escolheria para ouvir, se tivesse tempo para apenas mais uma faixa?

sábado, 29 de maio de 2010

Bloco de notas: "Parabólicas"

Verão de 2009

Há horas cruzando o sertão. O velho Xico já passou, e eu prossigo entre morros, pedras e vilarejos que parecem estar perdidos no tempo, totalmente isolados. Por aqui, o tempo parece ter parado e os quilômetros se tornaram insignificantes diante das muitas curvas...

No meio do nada surgem ruas estreitas, casas de barro, cercas construídas com galhos secos entrelaçados. Nas portas das casas as pessoas esperam o sol se pôr. São cidades invisíveis – povoados invisíveis. Pessoas perdidas em meio às montanhas. As antenas apontadas para os céus são indícios de que existe algum tipo de conexão com o que chamaria de mundo real (ou não!). Os semblantes revelam uma alegria sofrida, um sorriso tipicamente brasileiro.

Passando por estes lugares, me lembrei de uma canção que diz: “...se a TV estiver fora do ar, quando passarem os melhores momentos da sua vida, pela janela alguém estará de olho em você”. Neste momento eu estava na janela, e as pessoas se divertiam com o movimento na avenida central de um lugar inexistente, um projeto inacabado de fios e fogueiras, céu rubro e parabólicas.

Eu lia Calvino e tinha no coração a alegria boba de que aquela imagem se eternizaria.E neste bloco, será rememorada por muito tempo.


"Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos."
As Cidades Invisíveis - Italo Calvino




terça-feira, 18 de maio de 2010

Post de aniversário

14 de maio de 2010.

"O tipo de esperança sobre o qual penso frequentemente,... compreendendo-a acima de tudo como um estado de mente, não um estado do mundo. Ou nós temos a esperança dentro de nós ou não temos; ela é uma dimensão da alma, e não depende essencialmente de uma determinada observação do mundo ou de uma avaliação da situação... [A esperança] não é a convicção de que as coisas vão dar certo, mas a certeza de que as coisas têm sentido, como quer que venham a terminar."
HAVEL, Václav - extraído do livro "Conexões Ocultas", de Fritjof Capra.

Esta era a citação final. Estavam encerradas as discussões a respeito daquele livro no Núcleo de Pesquisa da Faculdade.

E acho que foi ali, no final daquela manhã, que eu compreendi algumas coisas que, como o próprio nome do livro diz, ainda permaneciam ocultas. É como se grande parte das minhas indagações feitas desde o início do ano fossem caladas com um sussurro do tipo: "existe um sentido para as coisas, ainda que você não compreenda".

E assim - deixando as coisas simplesmente acontecerem, e compreendendo que não posso controlar tudo - eu pude terminar o dia do meu aniversário feliz.

Ao menos foi isso que eu escrevi aqui no rascunho do blogger, ao som de Here Comes the Sun. É o início de um novo tempo? Talvez!

Here comes the sun, and I say it's all right.


Little darling, it's been a long cold lonely winter
Little darling, it feels like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
And I say it's all right

Little darling, the smiles returning to the faces
Little darling, it seems like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
And I say it's all right


"Here Comes the Sun" was written at the time when Apple was getting like school, where we had to go and be businessmen: 'Sign this' and 'sign that'. Anyway, it seems as if winter in England goes on forever, by the time spring comes you really deserve it. So one day I decided I was going to sag off Apple and I went over to Eric Clapton's house. The relief of not having to go see all those dopey accountants was wonderful, and I walked around the garden with one of Eric's acoustic guitars and wrote "Here Comes The Sun"
The Beatles Anthology. San Francisco: Chronicle Books.


terça-feira, 4 de maio de 2010

Tempestade

O tempo virou.

De repente podíamos admirar nuvens densas no céu... Um vento forte carregava a sujeira das ruas em redemoinhos e as pessoas começavam a correr de um lado para o outro. Os guarda-chuvas não resistiam e logo se deformavam, enquanto marquises serviam de abrigo e relâmpagos assustavam. Os olhos não podiam permanecer abertos diante do vendaval e o dia escureceu. Seria um tempestade após tanto tempo de aparente calmaria?

Uma torrente de águas desceu, lavando as ruas e empoçando água em cada esquina. Com pouco tempo de chuva, árvores foram arrancadas e tudo parecia incerto. Estragos, impotência, perdas... Pode-se ver o que está perdido indo embora na enxurrada que corre paralela ao meio fio.

O problema é que a tempestade, que começou subitamente naquela manhã, ainda não acabou.

As pessoas esperam atentas, quando o sinal da TV retorna, por notícias de estiagem. É bem verdade que a moça do tempo nunca fora tão requisitada.

"And if the night runs over
And if the day won't last
And if your way should falter
Along the stony pass
It's just a moment
This time will pass"


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sobre Chaplin e Chespirito

Sim meus caros leitores, eu queria muito ter ido até o Mart Center em São Paulo para acompanhar a segunda edição do Festival da Boa Vizinhança. Durante estes dias em que Kiko e Seu Barriga y Pesado estiveram no Brasil me vi pensando a respeito do quanto El Chavo Del Ocho me acompanhou durante todos esses anos. Eu nasci em 1989, e naquela época o programa já não era produzido e as reprises ecoavam piadas e jargões em toda a América Latina.

Mas o que justifica o sucesso de um seriado como Chaves? Sem grandes recursos, com cenário pobre e personagens caricatos - além, é claro, de episódios que se repetem e repetem e repetem... Nem os próprios atores presentes no Festival conseguiram dar uma resposta certa que explicasse o sucesso. Quando criança, minha mente era povoada de questões como: Será que eles ainda estão vivos? Aconteceu realmente um acidente de avião (lenda antiga)? Qual é a verdadeira voz dos personagens? (...) Meus primeiros passos no mundo internético (com conexão discada) me permitiram acessar ao site da Televisa, onde eu encontrei algumas informações sobre o programa.

Cão arrependido, mamãe querida, seu Madruga carpinteiro, professor Girafales apaixonado entre outros episódios marcaram minha infância, adolescência e ainda hoje, em tempos de YouTube, já perdi muito tempo revendo cenas de episódios. Mas hoje, é claro, sites como chespiritobr.com ajudam os fanáticos pelo seriado a encontrar, entre muitas coisas, episódios perdidos.


Minha explicação para o sucesso de Chaves? Talvez a ingenuidade, o humor fácil. Não é o tipo de programa que assistindo pela primeira vez leva a gargalhadas - mas após acompanhar os passos marcados, como o tapa dado por D. Florinda ou a pancada no Seu Barriga, tudo fica mais divertido. Além disso, eu somaria a genialidade daquele que é conhecido no México como pequeno Shakespeare, ou Chespirito. Roberto Bolaños, criador da série, é uma mente ativa até os dias de hoje, escrevendo programas, novelas e peças de teatro.


Ao lado do faminto Chaves, a pobreza também foi aliada do humor nos trabalhos de Charles Chaplin. Eu estava ainda no ensino médio, quando encontrei na locadora - na sessão "Clássicos" - filmes de Chaplin (em VHS). Tempos Modernos, O Garoto e O Grande Ditador marcaram minha adolescência, e foi nesta época que eu me propus a leitura da biografia do diretor/ator lançada pela editora Globo.

Foi depois desta leitura que eu passei a ver tudo em ângulos diferentes. Para muitos, a arte não deve ser analisada a partir da vida do artista, mas é evidente que ninguém produz arte sem ter alguma referência com seu contexto. Eu nunca fui um estudioso desta área, mas acredito que se existe uma separação entre vida e obra, essa separação é muito tênue.

E é justamente essa relação entre a vida e a obra de Chaplin que o psicanalista americano Stephen Weissman estudou para escrever o livro "Chaplin - Uma Vida". Hoje pela manhã, eu me deparei com uma entrevista com o psicanalista no ESTADÃO, que me deixou com mais vontade ainda de comprar o livro. O cerne de tudo é a infância sofrida de Chaplin, separado da família e assolado pela pobreza. Os traumas, as lembranças, tudo possui relação com o filmografia em questão.


Para mim, Chaplin e Chespirito compõem o quadro daqueles artistas que se eternizam e sobrevivem à enxurrada de produtos efêmeros da atualidade. Precisamos de mais artistas assim - e talvez teremos a família reunida, como eu pude presenciar inúmeras vezes: avós, pais e filhos na sala, rindo do que já viram outras muitas vezes e se emocionando com olhares e gestos mudos... tudo isso paradoxalmente inserido no contexto da "novidade" e "da comunicação verbal exacerbada" veiculada nos meios de comunicação.


Trecho da entrevista do psicanalista ao ESTADÃO:

O livro, escrito em forma narrativa, é baseado em extensa pesquisa sobre a vida pessoal de Chaplin. De onde surgiu tamanho interesse?

Mesmo hoje em favelas do Rio, nos bairros de Los Angeles ou nas favelas de Mumbai e Soweto, há crianças emocionalmente resistentes como Charlie Chaplin. Como psicanalista, me emociono e fascino pela histórias de crianças carentes incrivelmente dotadas que, de alguma maneira, conseguem sobreviver às adversidades, evitando o papel de vítimas e crescendo para se tornar adultos de sucesso, que conquistam o que querem. Criado em meio a uma pobreza dickensiana no fim do século 19, Chaplin perdeu a mãe para a loucura e o pai para o alcoolismo. Às vezes dormia nas ruas e, com fome, buscava comida na lata do lixo. Durante um período de 18 meses que passou em um orfanato, quando tinha 7 anos, Charlie lidou com seu medo e solidão interpretando papéis em um mundo de fantasia no qual ele já era "o maior ator do mundo". Escrevi o livro para tentar descobrir como uma criança de imaginação incrível conseguiu levar à vida adulta e adaptar a ela aquele sonho acordado da infância. Chaplin literalmente foi da pobreza ao status de mais famoso ser humano de todo o mundo. Ou, como um resenhista do livro colocou, "Chaplin não era apenas grande, era gigantesco. Em 1915, ele irrompeu em um mundo marcado pela guerra oferecendo o dom da comédia, do riso e do alívio. Ao longo dos próximos 25 anos, durante a Grande Depressão e a ascensão de Hitler, continuou seu trabalho. É difícil que outro indivíduo tenha dado tanto entretenimento, prazer e alívio para os homens quando eles mais precisaram".


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Todo Carnaval tem seu fim


Excelentíssimo, com a vossa saída da presidência do STF, talvez haja mais tempo para se dedicar à culinária!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Window in the skies

... talvez o amor consiga abrir janela nos céus. Mas seria isso realmente possível?


The shackles are undone
The bullets quit the gun
The heat that's in the sun
Will keep us when there's none
The rule has been disproved
The stone it has been moved
The grave is now a groove
All debts are removed

Oh can't you see what love has done?
Oh can't you see what love has done?
Oh can't you see what love has done?
What it's done to me?

Love makes strange enemies
Makes love where love may please
The soul and its striptease
Hate brought to its knees
The sky over our head
We can reach it from our bed
You let me in your heart
And out of my head, head...

terça-feira, 30 de março de 2010

Just for FUN!

Martin Sutovec


Frederick Deligne


“The Silence of the Lambs”
Angel Boligan


Chappatte, «Le Temps»

Charges extraídas do excelente blog Notas ao Café.